HIANTO DE ALMEIDA: O
POTIGUAR E A BOSSA NOVA
No ano 2010, a acadêmica e historiadora musical Leide
Câmara, em um minucioso e belo trabalho de pesquisa, expôs em “A Bossa Nova de
Hianto de Almeida” (SESC/RN, 2010) a brilhante e produtiva carreira do genial
compositor e música Hianto de Almeida, um dos precursores da Bossa Nova
(movimento da música brasileira do final dos anos 1950, lançada por João Gilberto,
Tom Jobim, Vinicius de Morais, Carlos Lira e jovens cantores/compositores,
entre eles Hianto de Almeida, de classe média da zona sul carioca; derivado do
samba e com forte influência do jazz, que revolucionou a música brasileira e
ganhou o mundo).
Hianto Ramalho de Almeida Rodrigues (Macau/RN, 2 de junho de
1924 – Natal/RN, 27 de setembro de 1964) Filho de Fernando D’Almeida Rodrigues
e de Maria da Glória Ramalho Rodrigues. De herança musica genética: pai músico
e compositor, irmãos compositores e intérpretes: Haroldo de Almeida e Newton
Ramalho (Dicionário da Música do Rio Grande do Norte, Leide Câmara, Natal/RN;
Editora do autor, 2001).
Sua vida artística teve início em tenra idade; aos nove anos
já estudava piano e começou a compor suas primeiras músicas. Em 1942, a família
se mudou para Natal e, em 1948, perdeu o seu pai, vítima de tuberculose.
Aos 19 anos, começou a cantar no programa de calouros da
Rádio Educadora de Natal (REN), depois Radio Poti, incentivado pelo empresário
Carlos Lamas. No ano de 1952, mudou-se para a cidade de Rio de
Janeiro, quando começou a trabalhar na Companhia Comércio e Navegação; durante
a noite estudava e conseguiu concluir o Curso de Técnico de Contabilidade.
Na cidade maravilhosa, fez amizade com jovens músicos ainda
não famosos como: Tom Jobim, Johnny Alf e João Gilberto; foi quando gravou as
sua primeira música, o samba-canção “Amei demais” e, logo depois, “Encontrei
afinal”, um dos seus grandes sucessos, na voz de Dalva de Oliveira, ambos em
parceria com seu irmão Haroldo Ramalho; na mesma época (1952), compôs, “Meia
Luz”, em parceria com João Luis, música incluída no primeiro disco gravado por
João Gilberto.
Há registro na história da música brasileira de que o
primeiro arranjo do famoso e imortal maestro Tom Jobim foi feito em cima de uma
música de Hianto.
Entre os cantores que registraram suas composições figuram
Dircinha Batista. Elizeth Cardoso (“Sincopado Triste”, “Memórias”); Isaurinha
Garcia (“Vento Vadio”); Elza Soares, Miltinho, Cauby Peixoto, Raul de Barros, Jair
Rodrigues, Trio Irakitan, Trio Marayá, Dalva de Oliveira (“Encontrei Afinal”);
João Gilberto (“Meia Luz”); Ciro Monteiro (“Meu bem”); Severino Araújo, entre
outros.
Em 1957, de férias em Natal, casou-se com Fabiola (Maria
Fabiola Gonçalves dos Santos), depois de um breve namoro; da união nasceram
duas filhas: Fernanda Santos Rodrigues de Medeiros e Fabíola Santos de Almeida
Rodrigues.
Pouco tempo depois passou a ser incomodado por um
“sinal/ferida” em um dos seus tornozelos. O persistente incômodo o fez procurar
um médico, que diagnosticou um câncer ósseo. Nesse momento, inicia-se a sua
grande e ferrenha batalha para vencer a inesperada e maléfica doença. De volta
ao Rio foi submetido a várias cirurgias, sem grandes resultados. Em 1961,
voltou a morar em Natal.
Em 1962, na sua luta contínua e corajosa contra a doença,
sempre apoiado e encorajado pela família, viajou para os Estados Unidos, com
esperança de obter em um centro médico mais avançado e evoluído, a resolução da
sua doença, que se exacerbava dia a dia.
Depois de quase um mês, não alcançando êxito com a nova
investida terapêutica, retornou, e voltou a morar em Macau, onde passou três
anos. Em 1964, voltou a Natal, vindo a falecer em 27 de setembro de 1964, com
apenas quarenta anos de idade.
Deixou uma musicografia riquíssima, com 237 composições, 81
gravações em discos 78 rotações, 7 discos de 10 polegadas, 7 compactos, 89 LPs
e 23 CDs. Foi seputado na sua cidade berço, Macau, em um ambiente e momento da
alta comoção popular, à altura do grande e genial músico precursor da Bossa
Nova Brasileira.
O Brasil, todos os norte-rio-grandenses e em especial a
comunidade macauense, se sentem orgulhosos e honrados pelo legado deixado e
imortalizado na história da música popular brasileira. Valeu a pena, Hianto!
Berilo de Castro, médico {berilodecastro@hotmail.com.br)
Artigo publicado originalmente no Jornal de Hoje, 22 de
outubro de 2014, página 2, Opinião.
FONTE – BAU DE MACAU
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